sexta-feira, agosto 17, 2007

Complexidade da Sexualidade feminina ! Os príncipes encantados

É necessário compreender que determinados comportamentos, e no caso presente, comportamentos sexuais, se integram ou não se integram no dinamismo da construção da personalidade da mulher .
No que se refere à expressão de desejo e do orgasmo, até ao início deste século, as mulheres que sentissem ou expressassem tais necessidades eram consideradas portadoras de algum tipo de psicopatologia, necessitando de acompanhamento psiquiátrico. Posteriormente com o passar dos anos o desejo e o orgasmo feminino passaram a ser uma possibilidade.
A partir dos anos 60, a actividade sexual, voltou-se mais para as realizações de prazeres pessoais; a reprodução não mais possuía, como anteriormente, valor incondicionalmente positivo, em função da preocupação com o aumento populacional.
Porém continua-se a afirmar e a teorizar que os homens tendem a sexualizar e as mulheres a romantizar as experiências de desejo sexual.
Culturalmente, socialmente e até individualmente acredita-se e divulga-se que, para todos os homens o desejo sexual nasce do acto físico do sexo e que, para TODAS as mulheres o desejo sexual e a própria satisfação sexual estão na base do amor e da intimidade emocional .
Ou seja a tal procura incessante que todas nós mulheres devemos fazer: Procurar o tal príncipe encantado, montado num cavalo branco. Esse cavaleiro fará a mulher muito feliz para sempre ... Mas e o sexo? Que história encantada permite que a mulher saiba que esse príncipe encantado afinal não se transformou num sapo ?
Afinal só sabemos é que eles viveram felizes para sempre! Nunca saberemos se a Cinderela, a Bela adormecida, a Xerazade, (a contadora de histórias encantadas das Mil e uma noites, que com seu poder discursivo, encantou e transformou o rei Xerir ), a princesa Fiona ( do filme Shrek), a Branca de neve, a Julieta, e tantas outras personagens da literatura e dos filmes, foram sexualmente satisfeitas...
Até há bem pouco tempo, representou-se a mulher em figuras femininas que se destinaram apenas à entrega total, e ao amor e colaboraram subservientemente para a construção do macho.
Nessas histórias da carochinha (já que João Ratão caiu no caldeirão ) no encontro dessas personagens, somos levados a acreditar que se surpreenderam num amor repentino, fora da norma, que deixaram-se levar pela paixão, sendo obrigadas a lutar contra terríveis dificuldades para ficarem juntos.
Existe algo de mágico e de fantástico nesses contos que deixa as mulheres sonhando acordadas, desejosas de um príncipe que resolva tudo nas suas vidas por amor. Esse encanto vem da correnteza de acontecimentos que, mesmo através de desvios tortuosos, arrasta tudo até a um final maravilhosamente feliz.
Ou seja, esta forma de contar uma história acaba revelando, nas entrelinhas, de forças mais poderosas que as tradições e os deveres sociais, por mais opressores e permanentes que estes pareçam. E demonstra que essas forças arrastam as duas pessoas apaixonadas por um rio de acontecimentos, tentativas variadas até finalmente desembocar na felicidade.
Acreditar, mesmo que por poucos instantes de leitura ou de visionamento de um filme, que a vida pode-nos arrastar para uma paisagem maravilhosa, onde a mulher será amada e respeitada, e o homem será um santo homem que a fará feliz essa é, talvez uma das funções das histórias de amor.

Porém muitas das mulheres deste país julgam que nunca poderão ser felizes no amor e/ou sexo, no mundo real das contas a pagar, nas casas que não são palácios mas o máximo do luxo é um T5 com 2 lugares de garagem, nos relacionamentos em que a falta de conversa, a rotina, o futebol ao domingo e a telenovela todos as noites, conduzem a um INFELIZES-PARA-SEMPRE, se não forem capazes antes de criar uma imagem de felicidade - uma imagem de fantasia...de que um dia vai tudo correr bem...
Lá, no mundo do faz-de-conta, a felicidade pode ser perfeita e maravilhosa, mas o pior surge quando se constata com a realidade vivida todos os dias.
Hoje as mulheres talvez ainda procurem o seu príncipe encantado, mas quando encontram algo semelhante a esse fenómeno largam-no mais facilmente aos vários sinais de coachar do sapo do que as suas mães ou avós.
Assim a princesa (que todas as mulheres se julgam) vai procurando um príncipe que mais ou menos aceda a esse mundo imaginário de felicidade; o problema é que quando as dificuldades, a acomodação, o desinteresse, os diferentes ponto de vista, (etc.) surjam sem que se saiba que arma usar...
Ao nível da vida feminina é preciso notar que não é só a parte afectiva, profissional, a lida de casa, o papel de mãe e de esposa, mas também o importante papel da «vida psicosexual» que atravessa fases de educação, de evolução e de amadurecimento (Alferes, 1994) é igualmente fulcral para a princesa se sentir feliz.
A mulher tembém deve ser exigente com o seu príncipe encantado no aspecto sexual!
Ainda que muitas mulheres experimentem períodos de dificuldade relativos à sexualidade sobretudo ao nível da excitação e do orgasmo, a maioria das relações sexuais satisfatórias são funcionais na maior parte.
No entanto também aqui o importante é o julgamento subjectivo de ambos os parceiros.
O certo é que muitas mulheres tendem a considerar de forma significativa o grau de intimidade, relação e razões emocionais quando avaliam o comportamento sexual!
Para a mulher a centralidade do envolvimento emocional ainda é caracterizado como o fundamento das relações sexuais; o interesse sexual requer geralmente algum conhecimento do carácter e algum envolvimento do parceiro. A intimidade poderá resultar algumas vezes em sexo. Ou seja, o príncipe encantado tem que ter muitos mais atributos do que dois palminhos de cara e três de corpo...o que está dentro do pacote conta muito mais...
Na satisfação sexual da mulher contribui a autoconsciência e a aceitação sexual que ela sente em relação ao seu parceiro, interesse, prazer e as preferências sexuais assim como a aceitação da componente física incluindo a imagem corporal.
Uma auto-imagem corporal positiva é importantíssimo pois implica a sensação de que o corpo é merecedor de apreciação, e a sensação de que as zonas erogenas e genitais e as suas respostas físicas são pertença própria e não mero produto do parceiro (vulgo príncipe encantado). Mimem a princesa!
As mulheres com uma satisfação sexual elevada possuem uma elevada satisfação relacional (Lawrance & Byers, 1995); em que a comunicação e a expressão dos desejos sexuais afecta tanto a relação sexual como o próprio relacionamento, pois facilita a proximidade e intimidade relacional.
Normalmente o nível de satisfação sexual baseia-se em dois factores: o grau geral de satisfação obtido com as interacções sexuais actuais com o parceiro; e até que ponto as expectativas relativas ao que deveria ser uma relação sexual correspondem à realidade. Para a maioria dos casais em relação, uma relação sexual satisfatória inclui prazer partilhado e um grau razoável de correspondência de expectativas.
A maturidade da relação afectiva surge com a capacidade de entrar numa relação que respeite a alteridade do parceiro sexual. Encontramos assim o ponto de junção entre o sexo e o afecto; a sexualidade física procura espontaneamente o sexo físico, mas a sexualidade atravessada pelo afecto e pelo apego encontra sexualmente o outro pela mediação do afecto.

(artigo de Raquel Figueiredo, publicado na revista Bons Vicius)











1 comentário:

Rabodesaia disse...

minha querida,
vou adicionar o teu blog a minha lista no meu blog!
Agora só tens é que escrever, escrever e escrever!